quarta-feira, 23 de maio de 2012

Drama da central de marcação de consulta em Cabo Frio





Reportagem de Andréa Luiza Collet do Diário do Litoral

Quem necessita marcar uma consulta ou fazer um exame sabe que vai ter de esperar – e muito

Paciência. Essa, certamente, é a principal virtude das pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) em Cabo Frio. Passar mais de 10 horas em “filas” para marcar consultas e a demora na entrega do resultado de exames são tão corriqueiros, que as pessoas já acham isso normal. A realidade contradiz a nota alcançada pelo município no Índice de Desempenho do SUS (IDSUS), elaborado pelo Ministério da Saúde. Cabo Frio obteve o maior percentual entre os municípios da Região dos Lagos, com nota 5,77, em uma escala que vai de zero a 10. Foram avaliados 24 indicadores, que determinam o acesso e a qualidade dos serviços de saúde pública oferecida à população, nos diferentes níveis de atenção - básica, especializada ambulatorial e hospitalar de urgência e emergência.

O Diário do Litoral resolveu verificar pessoalmente a situação. Na segunda-feira (21), por volta das 21h, fomos até o Centro Municipal de Marcação de Consultas. Com o termômetro marcando 17 graus e a sensação térmica chegando aos 14, por causa do vento, dez pessoas já aguardavam pela abertura do portão. Às 23h, quando o acesso foi liberado, cerca de 30 pessoas se apressaram para se acomodar nas cadeiras onde passariam a noite à espera de uma senha. A entrega dos passaportes que garantem a marcação de uma consulta começa por volta das 6 horas da manhã seguinte e, dependendo da especialidade médica, a concorrência é ainda maior. De acordo com a secretaria municipal de Saúde, as áreas mais procuradas são neurologia, cardiologia, endocrinologia e psiquiatria.

As pessoas concordaram em conversar informalmente com nossa equipe, sem se identificar. Apenas Janaína, moradora do bairro Jacaré, não se importou em falar seu nome. Um certo conformismo toma conta do pessoal, que parece estar conformado com o sacrifício em prol da saúde – pessoal ou de algum familiar próximo, como pais idosos, filhos pequenos e esposas. Antes do portão ser aberto, a principal reclamação é a falta de acomodação, pois é necessário aguardar ao relento, sem ter onde sentar, por algumas horas. Quando as pernas cansam, alguns improvisam um acento no suporte para prender bicicletas que existem em frente ao galpão. Casacos, meias, cobertores e um lanche fazem parte do kit essencial para “virar” a noite.


Sete dias

As cerca de 10 horas de espera têm uma justificativa na ponta da língua. “Se chegar depois das três (horas) da madrugada a gente não consegue vaga”, conta um trabalhador. “Se chegar cedo pelo menos a gente sabe que na próxima semana ou na outra já vai ser atendido”, acrescenta outro. Em média, o tempo entre a marcação e a realização da consulta é de sete dias, de acordo com a secretaria de Saúde do município. “Pelo menos com esse esforço a gente consegue ser atendido, tem lugar que nem consulta tá marcando”, diz um senhor idoso, com vasta experiência nas filas da saúde. Na ocasião, buscava uma vaga para a esposa, que ficou em casa.

Aos poucos, Janaína tomou coragem e fez um desabafo. Mãe de gêmeos, com três anos de idade, disse que recentemente teve de deixar de comer para comprar medicamentos, pois as crianças tiveram pneumonia e no posto de saúde do bairro não havia a medicação prescrita. “Remédio barato tem lá, mas quando é mais caro a gente não acha. O Marquinho (prefeito Marcos da Rocha Mendes), sendo médico, deveria dar mais valor e fornecer os remédios que a gente precisa”, disse. Ela conta que esperar na fila, de madrugada, também é rotina para quem precisa de atendimento no posto de saúde do Jacaré.

Em média, são marcadas três mil consultas por mês no local. A prefeitura pretende instalar, ainda este ano, um sistema informatizado de marcação de consultas. Perguntamos à secretaria de saúde o que isso vai representar para os pacientes. A resposta foi lacônica: “Mais qualidade no serviço, pois vai agilizar ainda mais (?) a marcação de consultas”.

3 comentários:

  1. Está escrito, " A CIDADE PARA O CIDADÃO".

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  2. isso ja vem acontecendo a anos no municipio nao e novidade pra ningueim e agora q vcs vem falar disso !!!! e o povo tem o que merece , nao deu valor a quem fez pelo municipio agora paga passando noites no relento mendigando uma simples consulta medica q alias e direito do cidadao esta na constituicao ..... cabo frio nos ultimos 8 anos andou 20 anos pra tras pequenas cidades como rio das ostras estao bem na nossa frente , e nao bota culpa na falta de grana nao pq e mentira entrao milhoes todo mes de royaltis e impostos para a prefeitura . essa ea cidade para o cidadao........

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  3. Impressionante como é tratado as pessoas que necessitam da saúde pública (SUS) na cidade de Cabo Frio-RJ. E pior que nem os idosos tem vez não! Estive conversando com algumas pesssoas que necessitam desse atendimento e o descaso é claro. E
    eu me pergunto: O que faz os nossos governantes? É de muita revolta ver idosos chegando às 16hs de um dia e virar a noite, madrugada a dentro para então 07:00h da manhã poderem ter a chance de uma maracação de consulta. E ninguém faz nada? Onde está o Prefeito? Quem é mesmo? Jânio ou Alair? Que vergonha... Enquanto os cidadões tentam marcar uma consulta, a cidade fica em dúvida quanto ao seu prefeito e blábláblá... Coisas que estão na cara né? Por isso a política está do jeito que está, e pior, são estas pessoas que passam por isso que ainda teem coragem de eleger um prefeito que só pensa em divulgar o TURISMO da cidade e ainda por cima acham que ele pode ser o melhor. Promessas? Poxa Sr. Prefeito, estamos cheios né? O governo que luta pelo cargo não fez nada até agora pela saúde, já há quantos anos mesmo? Hã? E eu pergunto mais uma vez: Que solução será dada a essas pessoas que merecem ter um atendimento digno e respeitoso hein Sr. Prefeito? Isso é vergonhoso... :/

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